Lean Construction além da construção civil: case Kepler Weber

Neste vídeo, Diego Wenningkamp, gerente executivo de Implantação de Projetos da Kepler Weber, e Eduardo de Oliveira, diretor e consultor-sênior da Produttare Lean Construction, apresentam as etapas de implantação para o Lean Construction na Kepler Weber.
A Kepler Weber é uma empresa que oferece para o mercado soluções pós colheita e, além de fabricar os produtos, disponibiliza aos seus clientes o serviço de montagem de seus produtos e gerenciamento de obras.
Visando reduzir perdas, custos com mão de obra, infraestrutura e equipamentos, além de reduzir o prazo de entrega, a empresa buscou inovar seus serviços implantando a filosofia enxuta: Lean Construction.
O vídeo também explora o sistema Last Planner e as oito etapas da metodologia Takt Planning utilizadas na implantação do Lean Construction nas obras da Kepler Weber.
Este vídeo foi extraído do evento on-line "Lean Construction além da construção civil". Clique aqui para assistir o webinar na íntegra.
A empresa
A Kepler Weber é uma empresa que fornece soluções de pós colheita, com unidades fabris em Panambi/RS e Campo Grande/MS, além de um escritório corporativo em São Paulo/SP. Suas duas plantas industriais são capazes de produzir anualmente mais de 5 milhões de toneladas em armazenagem de grãos.
A companhia possui três pilares estratégicos: produtos, serviços e relacionamento. No pilar produto a empresa já possui alto reconhecimento no mercado, mas vem buscando fortalecer os pilares de serviços e relacionamento.
No pilar de serviços, a Kepler Weber se posiciona como uma empresa de Engenharia da Construção no Agronegócio, idealizando, projetando, planejando, montando e entregando para seus clientes o empreendimento adquirido.
Após a compra dos produtos da empresa, o cliente acaba obrigatoriamente ando por uma obra, visto que os produtos são entregues desmontados.
Objetivando proporcionar uma excelente experiência ao cliente, a empresa ou a ofertar seus serviços de Engenharia de Construção. Focando no agronegócio, trabalha com mais de 150 obras simultâneas em todo o país. Em 2019, foram 275 obras de armazenagem e 8 obras industriais. Ou seja: 75% das obras referentes aos seus produtos foram montadas pela empresa.
Roap Jornada Lean Construction
A Kepler Weber tem como filosofia o conceito Lean. Iniciou a implantação da metodologia na fábrica em 2015 e em suas obras em 2017.
O Lean é uma jornada de transformação cultural, sendo necessárias algumas etapas para engajamento e entendimento da equipe. Assim, Diego apresenta o Roap da empresa de 2017 a 2021.
Em 2017, foi iniciado o processo interno com o mapeamento do fluxo de valor e simplificação dos processos através de visitas ao geomba (fábrica) e a padronização das rotinas.
Em 2018, foi dado início a integração de cronogramas entre a fábrica e a montagem dos produtos, além da construção de padrões de montagem e reestruturação da equipe no campo.
Em 2019, o programa atingiu estabilidade e, assim, houveram entregas técnicas importantes para empresa. Foi elaborado o programa de desenvolvimento de empreiteiras (PDEK) e capacitações das empreiteiras, chamado de KW University.
Em 2020 iniciaram-se projetos de Lean no campo, buscando excelência operacional, capacitação das pessoas envolvidas, entre funcionários e parceiros, para que, assim, seja possível captar ganhos para a empresa, seus parceiros e clientes.
Fluxo de implantação de projetos
O serviço não é formado só por processos, mas, principalmente, por pessoas. Por isso a empresa visa o engajamento da equipe, além de processos eficientes.
A Kepler elaborou seu fluxo de implantação com as seguintes etapas:
- Engenharia de aplicação: Após a decisão de compra do cliente é realizado o desenvolvimento do projeto com a melhor solução e layout para o cliente.
- Planejamento da obra: Esta etapa consiste em reuniões pré-obra com o cliente, criação de cronograma detalhado e plano de ataque monitorado através de gestão visual chamada “esteira de gerenciamento de obras”, controle de requisitos legais para uma segurança jurídica, seguro de risco de engenharia e contratação de empreiteira certificada pela empresa.
- Execução da obra: Equipes no campo organizadas em quatro regionais, dimensionadas para estarem próximos do cliente e gerenciarem os projetos. Também são realizadas reuniões frequentes para garantir o alinhamento com o cliente. Nas obras é possível observar canteiros com organização padrão e gestão visual.
Todas as obras são montadas por parceiros, somando mais de 1.500 pessoas indiretas trabalhando para Kepler e gerenciadas através do Programa de Desenvolvimento de Empreiteiras Kepler (PDEK).
O PDEK conta com um programa de incentivo e bonificação além da KW University, com módulos de desenvolvimento na área de gestão de pessoas, gestão financeira, gestão estratégica, saúde e segurança, execução da obra e lean construction.
- Entrega técnica: Após a montagem, a equipe realiza a entrega técnica com testes a vazio e com produto, treinamento teórico e prático para operadores e operação assistida para garantir o melhor funcionamento dos equipamentos.
- e técnico e garantias: a empresa mantém uma sala de operações para dar e durante a obra ou na vigência do prazo de garantia, para resolver de forma rápida qualquer problema ou esclarecer dúvidas.
Projeto Piloto
Para o projeto piloto de Lean Construction na Kepler Weber, foi definida uma obra de porte médio composta por silos de armazenagem, silos pulmão, secador e elevadores.
Para identificação e comunicação do projeto na obra, foi desenvolvida uma placa com a descrição do projeto para que todos os trabalhadores e parceiros tenham conhecimento.
Deu-se início ao projeto piloto no final de março de 2020. Em função da pandemia, foi iniciado de forma remota. De acordo com o planejamento inicial, a montagem mecânica seria executada em 6 meses, iniciando-a em junho de 2020.
Visto que a empresa já possuía um trabalho de padronização anterior, foram utilizados os tempos de ciclo já existentes no trabalho padrão e validados pelo empreiteiro, o envolvendo desde o início.
Sistema Last Planner como pilar
O projeto tem como pilar o sistema Last Planner, que é composto por eventos e rotinas que são interligados dentro do sistema de produção.
O pilar é composto por dois eventos:
- Master Planning: neste evento a empresa já possuía planejamento geral da obra bem consolidado, como os marcos, os equipamentos e seus planejamentos, assim como a quantidade de pessoas necessárias.
- Pull Planning das frentes: este evento consiste em elaborar um planejamento puxado, mapeando quais equipamentos são mais importantes e identificando oportunidades de ganho. É nesta etapa que é utilizado o conceito de Takt (ritmo da produção).
Para identificar e prevenir as restrições que possam acontecer nos eventos, este pilar estabelece rotinas:
- Reunião de 6WLA: planejamento de médio prazo onde são visualizadas as restrições vinculadas nas atividades, a fim de elaborar um plano de ação para mitigá-las ou eliminá-las, de forma que o projeto tenha estabilidade.
- Programação semanal: após a construção do planejamento de médio prazo, é realizada uma programação semanal, dia a dia, com plano congelado.
- Aprendizagem: acompanhamento diariamente do processo, hora a hora, para aprender com os problemas e as dificuldades.
Metodologia “Takt Planning”
Foi utilizado o método “Takt Planning”, de forma a identificar os fluxos repetitivos e balancear as equipes para buscar oportunidades de redução de prazo e custo da obra.
Se associarmos as equipes por onde um produto a num fluxo como um trem, onde todos os vagões devem andar no mesmo ritmo, percebemos que todas as equipes do fluxo devem também trabalhar no mesmo ritmo para que a obra seja mais eficiente.
Esta metodologia é composta por 8 etapas:
- Divisão em partes e definição do tamanho de lote
- Identificação do sentido construtivo
- Encadeamento das atividades
- Definição do quantitativo
- Identificação das equipes mínimas
- Cálculo takt time
- Ajuste das equipes por atividade
- Elaboração da programação
Divisão em partes, definição do tamanho de lote e identificação do sentido construtivo
Para iniciar é necessário entender como é realizada a montagem dos equipamentos. Para isso, nas etapas 1 e 2, foram escolhidos equipamentos que tivessem maior impacto na redução do lead time ou de custos, e, após estudar com a equipe a sequência de montagem, foram identificados os fluxos repetitivos, como, por exemplo, quatro atividades em duplicidade encontradas na montagem de silos.
Com a análise da sequência de montagem e fluxos foi possível definir o tamanho do lote de cada fluxo e o sentido construtivo.
Encadeamento das atividades
Na etapa 3, foi estudado cada fluxo para entender quais atividades seriam encadeadas. É nesta etapa que a equipe explora todas as possibilidades, discutindo sobre a sequência, agrupamento e eliminação das atividades, bem como a possibilidade da realização de uma pré-montagem na fábrica.
Também é possível identificar atividades restritivas, podendo ser projetado um buffer para absorver variações e proteger as demais atividades.
Definição do quantitativo
Na etapa 4, como o auxílio do projeto, foi definido o quantitativo de cada atividade, ou seja, qual o nível de dificuldade para executar certa atividade em um lote. Por exemplo: quantos parafusos deverão ser utilizados em uma chapa se o lote for uma peça.
A partir da determinação do tamanho do lote, devem ser analisados os quantitativos que irão provocar maior ou menor dificuldade para execução da atividade no lote. Esta etapa dará e à etapa 5, para determinação dos recursos necessários.
Identificação das equipes mínimas
Na etapa 5, a partir da análise do quantitativo das atividades, busca-se entender qual a menor composição de equipe e qual a produtividade padrão para cada atividade.
Ao longo do projeto, foi de enorme importância a participação dos empreiteiros e o entendimento dos mesmos quanto à real necessidade de se alcançar a produtividade.
Contudo, vale ressaltar que se deve buscar a produtividade já realizada neste momento e não estipular metas desafiadoras.
Cálculo takt time e ajuste das equipes por atividade
Ao identificar a menor composição possível e a produtividade, é inserido na análise o takt time, que é o ritmo para alcançar o prazo inicial.
O cálculo para encontrar o takt time na construção civil é diferente da produção, visto que, na fábrica, ao encher a linha, dificilmente será esvaziado o fluxo, o que na obra acontece a todo momento.
A partir da análise do takt time, ajustasse as equipes para atendê-lo, reduzindo a distância entre ele e o tempo de ciclo, consequentemente reduzindo desperdícios.
Elaboração da programação
Após analisar o takt time e ajustar as equipes de todos os 16 fluxos, correspondentes a 6 equipamentos, foram retornadas as informações para o planejamento de longo prazo.
Ao analisar o novo planejamento de longo prazo é possível observar que há oportunidade de redução de 2 meses no lead time da obra e 32% no custo, embora a equipe tenha 2 pessoas a mais.
Oportunidades identificadas e planejamento de longo, médio e curto prazo
A partir da definição do planejamento de longo prazo é necessário desmembrá-lo para um planejamento de médio prazo, entendendo as restrições e os possíveis impactos no fluxo.
Para que o fluxo produtivo não sofra interrupções é necessário gerenciar as restrições, ou seja, istrar os entregáveis dos processos de apoio, garantindo a estabilidade do projeto.
Com isso, foi criada uma sistemática de médio prazo, olhando seis semanas à frente, vinculando as restrições com as atividades.
Após a elaboração do planejamento de médio prazo é feito o desdobramento para o planejamento de curto prazo em conjunto com a equipe da obra, abrindo as atividades para que seja possível avaliar diariamente o PPC (Percentual de Planos Concluídos) da semana atual e da próxima.
Métodos de controle e aprendizado
Para fluxos com takt time abaixo de uma hora, a equipe introduziu quadros hora-hora para controle, visto que os ritmos são curtos e necessitam avaliação frequente para não pararem.
O quadro auxilia no aprendizado e no acionamento rápido da cadeia de ajuda quando houver problemas.
Para fluxos com takt time acima de uma hora foi desenvolvido um quadro para avaliar o distanciamento entre as equipes na execução de suas atividades.
Após todo planejamento executado, foi confeccionado pela equipe o relatório A3 para acompanhamento do projeto.
Estes controles e gerenciamento dos planejamentos são importantes para mensurar todos os ganhos e eventuais oportunidade como aprendizado.